Como toda história começa com “Era uma vez...”, a minha começá-la-ei. Tratava-se de uma cidade pacata, pequena e de interior, que apresentava um cenário bucólico bastante imagético: uma pracinha com um lindo coreto. Ao redor dele havia várias árvores. Uma dessas árvores, porém, se destacava em comprimento de galhos, apresentava poucas flores, folhas graciosas e frutos raros. Havia um fenômeno extraordinário, transcendental e único por trás dela o qual despertava reclamações e murmúrios.
Com o pensamento envolto e a balançar com o vento, a árvore pensava. Era o que a diferenciava das outras árvores. Ela não falava, mas pensava. E muito.
Com o passar do tempo tais pensamentos começaram a incomodar a vizinhança, visto que cada folha que caía dos galhos extensos, que se alavancavam cada vez mais próximos às calçadas, sujava diariamente o chão. Todos os dias um excesso de folhagem era retirado.
Num certo momento, um morador, cansado de varrer todos os dias sua calçada, podou a árvore. Como não podia se defender, ela foi massacrada pelos açoites da ferramenta e pelo sofrimento. Infelizmente ela só pensava. E pensava muito a ponto de se encher, durante a noite, de entusiasmo (para quem não sabe esta palavra significa “encher-se de Deus” em sua origem etimológica).
Ao amanhecer, os moradores daquela cidade ficaram apavorados e perplexos com aquela visão. Muitos nem acreditaram, outros passaram mal e alguns acharam que era puro delírio. No entanto, o morador que podou a árvore ficou irritadíssimo e se sentiu afrontado.
Então, entrou em sua residência, pegou um material estranho e incinerou a árvore preferindo ficar na mesmice a ter que se sujeitar a uma nova filosofia de vida.