Houve um tempo em que via flores ao meu redor e no amor que sentia pelo meu objeto de desejo.
À medida que os dias foram passando, descobri que tais flores murcham e que seria necessário plantar novas mudas, adubar uma boa terra e jogar sementes de felicidades a fim de promover o que meu coração almejava: um excelente relacionamento sem neuroses, sem atitudes esquizofrênicas ou psicoses mirabolantes.

Percebe-se que tudo virou questão de ótica e de como encaramos as flores: metáfora entremeada de relacionamentos entre pessoas.
E os espinhos? O que fazer com eles? Se não soubermos lidar com eles podemos nos ferir e muito. Arrancá-los seria a solução? Não sei. Depende muito de como se vive e para que se vive, pois relacionar-se é algo complicado. Muitos não sabem nem se relacionar consigo próprio, imagine com outra pessoa?
Com efeito, percebe-se que é triste saber que precisamos batalhar muito, montar quebra-cabeças de esperanças ou matar um leão para sobreviver às armadilhas e às falsas convivências e promessas que escutamos de vez em quando.
Se os espinhos crescem vem enraizados de sentimentos metalizados e sofríveis pensamentos, mas também vem à tona o aprimoramento, o amadurecimento, a sensatez e os resíduos deixados para que o sonho jamais morra ou sufoque, por isso tamanha beleza é engendrada e erguida.
O amor se foi e não sei se outros virão, e se virão serão bem-vindos e alojados em meu coração. Nele há espaço para todos, mas somente um será o dono fiel e contestador de emoções nada fugazes.
Minhas flores desejam o sol, o ar quente e úmido da manhã, pois precisa decorar o que se tornou triste e manter-se viva, aquecida e neutralizar o feio, a desarmonia e os atos destruidores.
Quero ver flores em minha volta, quero criar anticorpos para lidar com os espinhos, quero semear novas amizades e tornar-me um exímio semeador: um grande contestador de palavras em busca de sucesso e realizações. Portanto, seria a solução criar um verdadeiro jardim, onde possamos ver as abelhas e as borboletas visitando-o diariamente atraídas pelo pólen e pelo néctar das plantas floridas. Tudo seria mágico e resplandecente à proporção que eu acreditar nessa linda construção: o meu verdadeiro relacionamento com o outro.
Tenho que sentir que os perfumes das flores ainda exalam em minha mente. Tenho que perceber que ainda há flores na pessoa amada: meu desejo insaciável por respostas infindáveis que complementam minha loucura. Desejo criar um rock para as flores e com as flores, já que quero cantar, na ronda, na onda de minhas poesias florais.
Eu tinha no passado um violoncelo com decalques repletos de flores. Era exuberante e perfumado tal instrumento. Será que um dia o terei de volta? Talvez não, pois ele se foi e levou consigo as cordas de aço que tocavam a nossa música patética e nostálgica.
Agora tenho que acreditar em que haverá novos horizontes com novas flores. Meu maior medo é me ferir ou deixar-me ferir novamente com o mistério escondido a sete chaves pelo meu desejo mor.
Embora saiba que via flores constantemente, criei uma redoma que escondesse tamanha perfeição agradável à vista, e que cativa o espírito, pois receio ficar inebriado e ser ludibriado novamente pelas palavras ditas anos atrás. Cansei de silenciar meu coração. Por conseguinte, irei gritar e esbravejar toda e repleta emoção escondida. Não me calarei diante das flores nem do perfume exalado por elas jamais. Irei, agora, defenestrar o que me faz mal e recomeçar e restituir tudo que me fora roubado, aniquilado por tamanho sentimento.
Enfim, que surjam novas flores a fim de me devolver a vida e de me tirar da depressão e da angústia deixadas outrora por quem não deu o valor necessário ao amor que sentia. Desejo, assim, voltar a semear e conquistar o meu verdadeiro jardim dos sentimentos e me enlaçar pela metonímia do real nas mãos da fantasia.
“Que vejo flores em você...” Tudo é passageiro e fugaz, então brindemos as flores, o que elas representam e significam sinestesicamente e construamos melhor nosso presente com elas a nossa volta. Eis a verdadeira metáfora do prazer! Basta acreditar.