terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ti ti ti

Tratava-se de uma grande miragem ou realidade estrondosa e única de se olhar? Tudo indicava que Zé da Pá e Vassorilda iriam ganhar serviço bastante para colocar aquele cômodo alugado por de Dona Beth (funcionária da Rede Globo) em ordem.
- Nossa, Vassorilda, que desordem ficou este local após a festa da Moda Brasil. Dizem que foi realmente um ti ti ti e que só tinha gente grã fina e mulheres elegantes com lindos vestidos longos.
- Nem me fale, Zé da Pá! - falou inebriada e toda assanhada Vassorilda. - Parecia um baile de debutantes, pois me vi dentro de uma novela das dezenove horas onde comia caviar e bebia champanha à vontade. Mas o que me deixou intrigada foi a presença do estilista Jacques Leclair. Elegantérrimo como sempre ficou pra baixo e também deprimido por não ter feito tanto sucesso como deveria.
- É verdade, cherie! Ele não sabia o que fazer para esconder sua cara de tanta aflição, já que o vestido que fez para o evento não se encontrava tão magnífico e maravilhoso quanto o de Victor Valentim.
- Cá entre nós, Zezim, aquele vestido vermelho trajado pela Desirée parecia de outro universo. Ele resgatou uma beleza exclusiva de um tempo que não existe. É totalmente contemporâneo o feitio do vestido. - mencionou animada a vassoura. - Eu estava lá no meu cantinho somente espionando a festa e os acontecimentos.
- Realmente, Vassorilda! - interrompeu Zé da Pá com muita empolgação. - A festa foi brilhante, mas não gostei de uma coisinha.
- O quê? - questionou Vassorilda.
- Pena que não fomos convidados para a festa. Queria tanto participar como personagem autêntico e único desse evento novelístico, dessa empreitada noveleira, desse gênero narrativo de 250 capítulos. - indagou Zé da Pá perplexo pelo pouco caso de não ter nenhuma pá de lixo num elenco de uma novela. - Eu sei falar, decorar textos, dançar, cantar, declamar poesia, escrever bons textos e nunca sou chamado para um teste de novela. Isso é preconceito! - esbravejou Zé da Pá.
- Calma, Zé! Não precisa de tanta indignação, pois também adoraria virar modelo de Victor Valentim e usar aqueles vestidos exuberantes, maravilhosos e elegantes feito para uma grande vassoura como eu. Mas convenhamos, né! Sabemos que não é assim. Nós, utensílios domésticos, somente aparecemos quando estamos numa cozinha com alguma empregada da novela. Ou quando há uma cena em que homem vai à cozinha beber água e se depara lá com uma mulher grávida tomando leite. Aí, de repente, podemos aparecer. Não temos tanta serventia como personagem, mas para tirar toda a sujeirada deixada por eles temos. O que fazer?! Cumprir, amorzinho, nossos devidos papéis.
- Eu vou processar a Rede Globo por isso! - exclamou Zé da Pá indignado - Eu quero aparecer mais! - continuou.
- Então, meu bem, nasça gente na próxima reencarnação, pois nesta vida você se trata de uma mísera, simples e humilde pá de lixo e nada mais.
- Também não precisa esculachar, né!!! - retrucou Zé da Pá. - Sei que este mundo é cruel mesmo para as pás e vassouras. Só nos resta mesmo varrer e juntar todo o lixo humano.
- Então mãos a obra, grande amigo! - Mostra para a pá toda a sujeira que se encontra ao redor deles. - Companheiro das horas difíceis, estaremos juntos sempre para compor, ajeitar, ajustar, moderar e pôr a ordem em seu devido lugar. A limpeza é preciosa! - comentou Vassorilda toda compreensiva e carinhosa
- Realmente temos o nosso lugar ao sol e cabe a gente aproveitar o embalo e festejar por meio da limpeza. - disse eufórico e pronto para começar o batente a pá de lixo.
- E além do mais fomos contratados pela Rede Globo de Televisão para administrar a limpeza. Enquanto formos novos e estivermos prontos para o batente saberemos fazer nosso devido trabalho com eficácia e eficientemente.
- Desde que nossos salários sejam pagos devidamente com devida insalubridade, porque ficaremos velhos e gastos futuramente. - reclamou Zé.
- Amorzinho, pare de reclamar, pois teremos uma aposentadoria ótima e não precisaremos usar fraldas geriátricas não. - debochou Vassorilda com gracejos e gestos.
Nesse momento ambos observam ao redor e percebem que é necessário começar o projeto limpeza naquele local. Eles se entreolham e entrecortam seus olhares para se comprometerem com o que se chamaria de grande trabalho. Não bastava numa linda manhã de inverno cumprir seus afazeres domésticos, no entanto precisavam estabelecer a ordem e mostrar suas verdadeiras habilidades.
Infelizmente, a pior parte da festa tinha ficado para eles: a reconstrução do local sem nenhuma sujeira. Eles sabiam que seria árduo, mas nasceram e foram treinados para aprimorar e melhorar aquilo que não se encontra bom. Mesmo achando fiapos de tecidos, bebida e comida pelo chão após o show de Jacqueline com Francisco Torrão na pista de dança.
- Realmente, Zezim, o casal que estava bêbado fez a maior festa e ainda contribuiu para enobrecer o vestido produzido por Victor Valentim. E isso foi o maior ti ti ti.
A conversa não parava entre eles. Parecia mesmo um maior ti ti ti. Um precisava do outro para aplicar a famosa limpeza e deixar tudo brilhando e cheiroso. Assim, com muitos afazeres, cantando e saboreando aquilo que sabem fazer de melhor: limpar. Ambos não sabiam, mas já eram considerados os funcionários do mês na arte do bom acabamento, uma vez que eles faziam tudo com muito esmero, amor e delicadeza. Varriam dali e pegavam lixo daqui para enfeitar o recinto, embora soubessem que, na verdade, contracenavam com o grande elenco da novela.



2 comentários:

  1. Texto bem elaborado com ótima criatividade. Gostei muito também da pesquisa das imagens e vídeos.

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  2. Nossa adorei,ainda mas que a postagem é sobre a nova novela das 7.Eu adoro moda e é claro não perco a novela e muito menos comentários sobre ela.Bjs....

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