quarta-feira, 30 de junho de 2010

Atenção: roda o baleiro!

Comprometa-se com o baleiro. Faça-o rodar, girar bastante e, assim que parar, escolha a bala mais gostosa do planeta. Veja, também, sua sorte chegar e acontecer. Ponha-a na boca e saboreie-a. Assim perceberá os pequenos prazeres que a vida lhe proporciona.
Roda baleiro. Atenção! Quando parar ponha a mão e rejuvenesça, mesmo que seja pura imagem virtual.


terça-feira, 29 de junho de 2010

No meio do caminho tinha um ônibus...

Simplesmente há morros em minha volta. Nunca imaginei escrever dentro de um ônibus com pessoas desconhecidas falando, rindo, ouvindo música em seus MPs.
A paisagem bucólica de Laranjais conquista-me com seu verde ressecado. Uma campainha horrorosa toca para avisar a partida. De volta à estrada, a letra estremece devido ao movimento do veículo coletivo. Pessoas de todas as idades entram e saem a cada lugar que passamos.
É interessante assistir aos cavalos galopando pela estrada de terra, ao gado em seu pasto se alimentando, aos trabalhadores cultivando a terra e às belas árvores pelo caminho. Tudo é uma perfeita calmaria em movimento. Parece arte primitiva querendo se transformar em roça, desenhando, ponto a ponto, a natureza. Isso leva-nos a crer que a vida pacata e simples do campo era valorizada para mostrar a beleza natural dos grandes poetas neoclássicos.
À medida que a viagem acontecia, a grande aventura árcade se realizava e nos fazia penetrar no mundo de Alberto Caeiro, o grande Guardador de Rebanhos. Há metafísica o bastante para penetrar o cotidiano simples de cada ser, já que retrata o ser humano em sua essência.
Aos poucos, com o movimento excessivo do ônibus percebo a realidade negativa improvisada e inspirada pelos poetas árcades. Escrever e pintar a estrada tornou-se tarefa difícil, pois sentia náusea. Todavia não desisti e tirei a pedra do caminho para visualizar melhor o horizonte e chegar ao destino que conquistei um dia.

Promessa



Os louros da vitória,
sussurrou o poeta,
dependem do cumprimento
de sua promessa.
Quando a realizará
para sermos mesoclíticos?

domingo, 27 de junho de 2010

Mil e uma identidades

Falta-me inspiração para falar dos nossos encontros às escondidas. Foram tantas identidades que me perdi e não consegui retornar ao meu verdadeiro eu; por conseguinte, a cada fuga e a cada alteridade a alegria, o contentamento, o gozo, o deleite que buscava eram intensos a ponto de nortear tudo que era verdade e/ou mentira. Disfarcei-me para não sofrer e para desacreditar no que eu era de fato: obscuro e sombrio.
À proporção que me enganava e me iludia sendo outra pessoa, sofria com teu afastamento. Não queria que me visse sendo um outro ser: imagético e criado virtualmente para fugir de mim mesmo. Fui outros e outras porque precisava sair de meu ser a fim de satisfazer-te. Por mais que cada invenção fosse satisfatória e até prazerosa, sofria intensamente com tua ausência.
Tive que me desencontrar e me perder para ter a tua presença por perto, mas questiono sempre se realmente não é utópico e que teus sentimentos existem.
O pior momento não foi dar lugar a outros seres, porém deixar de ser eu. Saí pelo mundo a fora sendo vários e esquecendo de mim mesmo. Nunca se preocupava comigo, pois naquele momento eu não tinha a mesma importância que tua pessoa. Confesso que desacreditei em mim e no potencial que havia por trás de minha essência. Não me bastava mais viver, já que o eu e o tu não se harmonizavam mais. O que aconteceu comigo? Onde me acharei novamente? Onde estou? Aonde ir ao meu encontro? Qual identidade se aproximará melhor de mim e de ti?
Cada vez que me afastava de mim, não tinha a tua presença por perto para me afagar e acariciar meu coração. Esfriei-me por completo quando resolvi ser o que não sou verdadeiramente. Tive que inventar mil e uma utilidades para esse novo eu, morrendo-me paulatinamente e deixando de me importar com tudo que estava ao meu redor, inclusive com meu eu, porque os outros eram mais dignos de serem substantivados e, para cada um, criavam-se predicativos semelhantes à imagem que fosse engendrada.
Não existia nem vivia mais. Outros se apoderaram de mim. Alterava tudo à minha volta, visto que a cada alternância excluía-me excessivamente. E agora? Como procurar-me-ei? Serei fiel a essa forma excêntrica e descartável? A cada mil faces te amei. Juntas elas te amaram como se fosse eu. Todavia me dissolvi e tudo se diluiu ao vazio, ao caos, ao nada.
Máscaras inventaram muitos eus, ao passo que a imaginação fértil crescia. A cada passo dado sabia que poderia me deparar contigo em alguma esquina ou quarteirão, pois via a tua imagem a galopar indo e vindo ao meu encontro. O pior momento foi não saber qual identidade me caberia melhor para estar junto de ti, uma vez que foram tantas alteridades que os outros se tornaram mais importante do que os eus.
Enfim, parecia-me em um divã sendo analisado e questionado por ti. Enquanto ditava regras de sobrevivência para alguma personalidade enraizada no meu coração, fingia-me ser o que não era. Não obstante, o melhor de tudo foi saber que se preocupava comigo e que se importava com cada gesto, atitudes e ações minhas. Em comunhão permanecia nosso elo. Só espero que estejamos num perfeito anelo: sem movimentos cíclicos e com o amor que prometera para a construção de nossa história.


sábado, 26 de junho de 2010

A miragem

Não existem palavras que possam aprimorar o final. Nem a imaginação aprisiona a doce ilusão. Nada há sentido, pois tudo permanece vago, impreciso e indefinido. Será por quê?! À medida que o amor que sinto cresce, sinto vontade de gritar, mesmo sabendo que a dor pode sucumbir e derramar-se em lágrimas. Extravasar sentimentos até que eles se misturem ao entusiasmo, à alegria e à satisfação de viver essa história de grandes amantes poderá gerar uma exaustiva e forte ansiedade a ponto de baixar a autoestima. Desejo-te tanto em minha vida, no entanto sei que estou a amar sozinho e sem nenhum elo coesivo a nos unir de fato. Por que falta um conectivo até nossos corações? Como fugir de mim e do que sinto? Será uma ingrata obsessão?
Receio, aos poucos, desesperar-me insanamente e não saber como aplacar tal abstração, uma vez que tudo aparenta remoto e quase sem vida.
O mais irônico é perceber que no fundo me ama, mas receia em assumir para si mesmo as promessas que um dia fizera. Quebraram-se copos e pratos e os vejo estilhaçados no chão, mostrando nossa face em pedacinhos de pensamentos, desafetos e desarmonia; porém, pouco a pouco, constroem-se em utopia e desassossego. Não há nenhum ato possessivo detrás disso nem mesmo obscenidades.
É triste perceber que seus lábios não grudam mais aos meus nem roçam minha língua como outrora, visto que nossas fantasias se misturavam e se entrelaçavam numa perfeita simbiose.
Mas eu deixarei que morra em mim a paixão que me enlouquece e me envenena, não obstante não mata. Queria voltar ao nosso oásis e senti-lo dentro de mim a fim de que nunca percam de vista tais emoções.
Assim que o dia amanhece, percebo a grande e tensa miragem que se fez entre nós. Surgem retóricas e alegorias ao lembrar da união de corpos que comprometiam árdua e plenamente nossa relação.
O cheiro sofre mutações porque não acreditávamos que o real pudesse, de fato, se concretizar em nossos caminhos. Então passa a ser simples essência e nada mais. Nosso odor não tinha mais importância nem significado, embora impregnasse em nossos poros a vontade de nos enlaçar, de nos contemplar, de ansiar e de mirar um exclusivo e magnífico alvo: o amor que roubara de mim; que fizera juras, mas não teve coragem de assumi-las perante Deus.
E como desobstruir tudo que sentimos um pelo outro? Não tenho resposta, no entanto seria maravilhoso que nossos sonhos voltassem a ser únicos e compartilhados. Ame-me bem baixinho e com cuidado a fim de que intensifiquemos o anseio por felicidades. Mas para isso precisamos nos (re)encontrar e nos fazer existir.


terça-feira, 22 de junho de 2010

Insônias e reminiscências

Noite cai e as reminiscências permanecem estanques em pensamentos pouco sombrios. O sono não chega e adentro-me no marasmo da madrugada ao escutar tudo que me rodeia.
Levanto-me e vou à cozinha fazer um chá de capim-cidreira para trazer o sono a mim. Há momentos que ele foge excessivamente. Trata-se de uma busca constante, de uma luta árdua que travamos e que nem sempre se ganha a batalha.
Com o tempo acostuma-se a perder e a continuar de olhos abertos (e muitas vezes querendo fechá-los). O coração forte acelera-se e tudo se torna nostálgico, compassivo e inebriado pelos fatos ocorridos durante o período de insônia.
Lembrei-me da bala Hall’s de eucalipto em minha boca. Degusto-a para aquietar meus meros sentimentos fugazes – que vagam e entorpecem o amor que há em mim. Este se aparenta a um broto de palmito cuja degustação deve, lentamente, se aprimorar. Minha língua, pouco a pouco, roça a bala com tamanho fervor e teor excêntrico, misturando-se a saliva louca e embevecidamente.
Enquanto palavras e chá não procuram com afã um jeito melhor para dormir, tampouco se volvem em miscelâneas, crescem em mim o desejo de amar os teus olhos, pois se afiguram doces, suaves e meigos.

               Teus retratos guardam segredos os quais desconheço; no entanto, apaixono-me cada vez mais pelo lado lúgubre de teu ser. Confesso que cansei de vagar, de escrever palavras vãs e de buscar filosofias para te descobrir. Sinto tua falta em minha vida e não sei como expressar tamanha angústia. E me desfaço assim que teus olhos piscam suavemente. Devaneios chegam e atormentam-me. E o chá continua a minha espera: quente e pronto para ser saboreado.
Novas esferas de saber agem em mim. Converto-me sempre na trufa de pimenta assessorada aos verbos auxiliares que me aplacam de forma caustica para o sono voltar ao meu eu, a fim de que possa viajar e descansar para o dia seguinte. Assim, vive-se o amor irrealizável na expectativa de um dia concebê-lo ou alcançar mesmo tal graça.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Começo de Inverno

Inverno, 21 de junho de 2010.

Hoje às 8h 29 min o inverno ocupa-se majestosamente o trono das estações. Ele se torna a musa do frio e abre as portas para as artes. Embora não tenhamos neve, sempre a contemplamos nos desenhos animados. Este é o período que temos que aquecer nossos sentimentos e emoções a fim de que não os percamos de vista. Não se pode diluir o que temos de melhor nem esvair o que o coração a sete chaves guarda. Lutemos por novos amores e a permanência deles, pela amizade que se constrói ao passo que os dias vão se findando, pela gastronomia a nos esperar e pela nova forma de prazer que nos espreita e nos faz resistir ao ato de hibernar. Portanto, fotografemos a vida, a esperança nela embutida e agraciada, louvemos as folhas que caem para que novas surjam na primavera. Voltemos a nós mesmos: à nossa identidade que ressurge das cinzas e que somente adormece para futuramente acordar sem olheiras e com mais esplendor.
Chegou o momento de edificar os bonecos de neves que nossa imaginação desejou compor um dia e também dar existência às belezas naturais propagadas por eles. Imaginemos um céu brilhante e ensolarado esfriando o desgosto, a desarmonia, o desassossego e os problemas do cotidiano.
Nel Mezzo del Camin... Três meses permanecerei para difundir novas reminiscências, não obstante sem oração do sujeito e valorizando a importância do predicado que há em nós. Assim, das folhas secas aos novos frutos, descobrirei pelo caminho o que o inverno traçará em mim.

Palavra



Imagem sem reflexo,
significativa,
emotiva,
metalinguística,
do povo,
dos poetas,
da gramática,
dos acadêmicos
e das universidades,
da vida,
minúscula,
maiúscula,
mutável,
transformadora,
efêmera,
abstrata,
radical.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O final do outono em nossos corações


Nesse finalzinho de outono o dia amanheceu exuberante e lindo, pois o céu encontra-se todo azulado sem nenhuma nuvem para compor um cenário pictórico. Fazemos a própria imagem acústica desse universo. Viajaremos nele à proporção que interagimo-nos com os sonhos de Ícaro (“Voar, voar, subir, subir”.) e, aos poucos, azulejamos pensamentos para formatar e afigurar impressões.
Através do frio, digitalizamos os personagens para dar vida a uma boa e magnífica história e construímos grandes momentos para compor a nova estação que irá adentrar. Cachecol, gorro, blazer, veludo, sobretudo ganham espaço e saem do guarda-roupa como figurino e acessórios. O ar muda por completo e o vento sopra intensamente ao redor a fim de estabelecer o clímax.
Assim, vinho, capuchino, chocolates quentes, sopas e caldos aquecem-nos, nutrem-nos e produz um efeito contagiante a quem os aprova e saboreia. Talvez seja por isso que nossos corações disparam: descobrimo-nos para vencer todos os dias e para mencionar que não haverá invernos dentro deles e que expressão imagética é puro delírio. Por isso vale a pena conferir e vivê-los sempre e que o frio somente esteja de passagem. Caso se prolongue é para melhorar o ar quando a primavera chegar com toda pluma e exuberância (repleta de flores, perfumes e amores). Deleitar-me-ei com tudo que surgir e vier a fim de que desenhe o calor e dissemine toda sapiência intrínseca escondida dentro de nós.

domingo, 13 de junho de 2010

Mero frenesi de palavras

Mais um momento vivido se cumpria nesse instante: translúcido, límpido, azul podíamos nos apetecer através da visão do mar. Pura imaginação fértil inundava meus olhos. Sim, ouvi constantemente a música “Todo azul do mar” e me veio esse parágrafo.
Não tinha nada para contemplar nem para escrever. Desse modo, resolvi vagar em pensamentos para falar do nada, de identidade, de alteridade em suas controvérsias e confrontos.
Já se parou para perguntar sobre o(s) outro(s) que há dentro do eu que habita e mora dentro de você? Sim. Temos algo a mais que navega em nossos pensamentos e nos permite devanear. Você já teve a sensação ou desejo de ser alguém totalmente diferente do que gostaria ser? Por isso quero lhe informar que há em nós esse outro, entressachado de ilusão e verdade, aplacando nossas vontades e causando delírios mórbidos.
Não pretendo ser poético ao falar de alteridade, entretanto devemos nos questionar até que ponto a identidade é nossa de fato, até que ponto a almejamos definitivamente. Talvez seja dessa forma que elas se contrapõem e se associam reciprocamente, visto que se nutrem deles mesmos para se relacionarem. Um não vive sem o outro e à medida que eles se “angustiam”, se encontram e se entrelaçam num só ser, registrando-se o frenesi. E assim viajamos nas palavras, de sorte que sintamos emergir cada gesto, cada afago, cada som, cada olhar diferente do normal.

sábado, 12 de junho de 2010

O palhaço

Hoje algo inusitado aconteceu: ganhei meu primeiro presente de um palhaço. Literalmente, palhaço fiquei com o nariz vermelho. Parecia outra simbiose entremeada de palhaçada e seriedade. Não houve risos, mas sorrisos. Quem será que se encontra por trás daquela pintura, daquela maquiagem, daquela máscara? Como aconteceu tamanho malabarismo em volta de mim? Não sei. Só sei que não houve o pranto de Vinícius nem o soneto de construção engendrado por ele. E o fantástico se fez e se construiu em alegria e risos após a completa palhaçada formada e crescida, aos poucos, após análises dos acontecimentos. Viva o presente! Viva o palhaço que há em mim e em ti!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Namorar todos os dias...

Os anos passam e se percebe o quanto o comércio ganha vida em data festiva. Não basta o tempo natalino, o dia das mães e dos pais, a páscoa para ele, uma vez que o mundo capitalista precisa “rodar” e continuar com seus preparativos para enfeitiçar pessoas de toda parte.
Com as proximidades do dia doze chegando, comecemos a refletir sobre o efeito mágico que se perde em gasto para estabelecer vínculo com o que se diz prazeroso. Sabe-se que é simplesmente uma data e que infelizmente não é comemorada todos os dias, como deveria.
Com efeito, falar-nos-emos de amor. Onde será que ele se encontra agora? Será que ainda é sentimento? Será que é sentido verdadeiramente entre os corações ou sempre vem descolado com a promiscuidade (claro que não vem!), com o falso juramento, com a valorização do eu. Puro egoísmo pensar desse jeito. Mas namorar deveria ser todos os dias. A partir do momento em que duas pessoas dizem se gostar e querer estabelecer um elo, uma fusão, um relacionamento, um vínculo, começa-se a magia, visto que o egoísmo deixa de existir para dar lugar ao duplo, ao par, ao casal (que fizera um juramento para compartilhar emoções, sentimentos e vida em comunhão).
Por meio desse prisma, avaliemos o formato do objeto que o casal usa para ratificar seu compromisso: uma aliança. Desde o próprio namoro até a chegada ao casamento possamos ver, que muitas vezes, esse compromisso representado por uma circunferência: sem pontas, sem fim, marcando a rotatividade de duas vidas que se juntam para compor uma valsa – partitura e melodia. A partitura não existe sem melodia. Toda melodia requer notas, arranjos, que podem ser modificados, moldados, melhorados a cada dia de acordo com o tom que se estabelece para a construção diária desse sentimento chamado amor. Todo dia é dia de orquestra sinfônica. É dia de sorrir, de brincar, de falar sério, de se arrepender e de pedir perdão. É dia de se ter esperança e de acreditar em que tudo irá melhorar. Não se importando se fala ou canta como os anjos nem de fazer concessões a uma série de obstáculos que podem fazer se perder por tal emoção. Mas todo dia é dia de namorar, é dia de compartilhar desejos, é dia de distribuir flores à amada e a convidar para prestar atenção aos mínimos detalhes que se encontram ao redor: observar a natureza, ouvir os passarinhos a cantar, ver o leito do rio com sua correnteza forte a passar e saborear o melhor prato, vestir a melhor roupa e dizer sempre as três palavras saborosas que contagiam o universo: “Eu te amo!” Tudo deveria se transpor, porém palavras o vento leva. No entanto, são com as dificuldades que se constroem os melhores alicerces para um relacionamento maduro, coeso e harmônico. Toda sinfonia precisa de harmonia para não ferir aos tímpanos. E assim é o amor. Ele suporta tudo: sofrimentos, alegrias, depressão, tristeza, entusiasmo.
Aos poucos descobrimos que viver a dois é compartilhar ideal, estabelecer metas e prioridades. É, de fato, ser um só ser. Mas, infelizmente, isso tudo é utópico; pois a realidade é dura e cruel, às vezes. À medida que se encontra junto é para criar um universo onde, mesmo com dificuldades, o amor se sobressaia. Amor requer fidelidade. Será que somos fiéis aos nossos desejos de comum união? Será que a vida que escolhi a dois é realmente a dois? Será que estou maduro o suficiente para o namoro? Para namorar todos os dias? Para criar laços com a pessoa que escolhi para mim? Isso não se tem uma resposta precisa, já que cada pessoa é uma. Não se pode engendrar uma receita e dizer sigam-na. Não se pode sentir pelos outros. Não se podem julgar sentimentos, mesmo não sendo verdadeiros, porque cada um é um. O que se deve fazer é realmente senti-los e vivê-los todos os dias como cada um escolheu. Não obstante, ninguém escolhe os sentimentos, pois eles não se escolhem, mas se senti.
Em suma, cada ano que passa vislumbramos o dia 12 de junho e comemoramos em nosso país o dia dos namorados. Só sabemos que o verdadeiro amor vincula-se ao respeito, ao prazer de estar junto porque amar de verdade é compromisso. E assim a aliança se constrói diariamente, mesmo com arranhões, a fim de que cada dia seja melhor; e se não for, não se preocupe, é sinal que você se encontra com a pessoa errada. É sinal que você não teve discernimento para uma vida a dois, pois viver com outra pessoa não é fácil. Mas nada nessa vida é fácil. Seríamos hipócritas se afirmássemos que tudo são flores. Só que todo dia é dia de renovação ao amor. E se renovar requer cuidado, diálogo, bom trato, animação e bom humor.

domingo, 6 de junho de 2010

Haicai da Liberdade



Um pano vermelho,
talheres sobre a mesa
a me conquistar.

sábado, 5 de junho de 2010

“Liberta-te que serás também”


O mundo apresenta-se inerte
perante o teu olhar
suave, compassivo, plácido.
O brado retumbante
libertou-te das correntes fugidias.
Os canários cantavam
o canto mais doce
de quimeras mil.
Tratar-te-ei aos moldes medievais:
performance, voz, tradição, memória
ao te olhar diante
do supremo sentimento
que fora recalcado;
no entanto, forte és teu castelo de cristal
que se derreteu paulatinamente
por meio de uma chorosa alegria.
Um lado teu é severo,
áspero, varonil e inverossímil.
Outro lado é verdade, paradoxal,
onde encontrei tua identidade.
Perdurar-se-á através das múltiplas identidades
por toda vida
singelo oxímoro, ilusão.


sexta-feira, 4 de junho de 2010

Alteridade em mim

Mundo distante,
cruel,
sem nome,
sem rastro,
que apodrece vidas
e onde o amor se esvai.
Esquecer dói!
Num tom ébrio
sinto o desvario ardendo em chamas.
Não consigo lutar!
Febre mórbida!
Loucura insana!
Onde se perdeu minha identidade?
Quem me roubou de mim?
Devolva-me.
Por que tanta alteridade em mim?
Não sou nada: nem pó nem vazio.
Talvez seja o absurdo
da mente de um biltre alienado,
aniquilado e metrificado pelos açoites.
É a solidão que arde em meu peito
que escreve.
E sinto que estou cada vez
mais próximo da morte.
Para quê? Nada faz diferença em mim!
Estou vulnerável ao nada, ao vazio, ao caos.
A morte tornou minha psicologia neste momento.
Pena! Tornei-me insignificante:
sem fome, sem arte, sem cor, sem perfume, sem luz!



quinta-feira, 3 de junho de 2010

Avesso do avesso


Nesse mundo conturbado
não sei buscar a melhor e verdadeira identidade
nem o eu nem o outro se esconde de mim.
Tua face fugia de mim
e amanheci só,
sem seus olhos para contemplar
encontrei-me vazio.
Pura penumbra
havia em meu coração,
dilacerando-me
e queimando-me
paulatinamente.


Tentei fugir de mim e do outro,
porém não consegui.
Pensei em esperar
quando me pediu
mas vi que foram palavras vãs
e promessas não foram cumpridas
e tornaram-se meras e vazias.
Há alteridade nos escombros
Contrapondo-se à minha identidade.
Onde buscá-la?
Como a diluiu?
E os números e registros
de nossa imaginação
se perderam,
virando-se pelo avesso.


A tristeza concebeu o drama
e a melancolia a depressão.
Caí numa dimensão
além da metafísica
tentando buscar-me sem solução.
Até o dia em que seguraste
minha mão para eu prosseguir
e quando voltei a mim
nossos olhos se desencontraram
para que me cegasse
e deixasse minha vida um caos.
Lutei. E muito.
Mas não consegui, enfim, continuar
e na solidão permaneci.






quarta-feira, 2 de junho de 2010

Devolva-me!

Devolva-me o que me roubou de mim:
as emoções, os sentimentos
que foram oprimidos,
recalcados e reprimidos.


Há alteridade em mim
se me encontrar pelo caminho
traga-o a mim,
liberte-me das amarras
que foram mal concatenadas.
Se avistar minha miragem
deleite-a e contemple-a
mesmo que seja na dor,
no caos, no vazio,
no tudo, no nada.


E quando voltar ao pó
devolva-me.
Roubaram de mim
meu próprio reflexo,
minha imagem
e a vida engendrada por Deus.


Devolva-me
a verdade sobre o amor,
as maneiras simples de dizer “Eu te amo!”,
a alegria de cantar
e no mais longínquos dos abismos

encontrar-me-ei novamente.


Se tua palavra penetrar na minha
que seja para frutificar

a ausência de mim,
que se perdeu,
que ecoou e bradou
pelo mundo afora.


Devolva-me
pois não sei se sou o eu ou o outro
nesse horizonte amargurado.
Buscar-me-ei mas não achei,
bati em alguma porta

e as fecharam para mim.
E janelas circunscreveram “nulo para ti”.


Nessa caminhada árdua
não tirei palavras para me direcionar.
Fui ultrajado pelos açoites,
rasgaram minhas vestes
porque deixei de buscar-me
e tudo deixou de ser arte,
canção, cumplicidade, amor e performance.


Desejo meu eu
preciso dele para existir
pois roubaram de mim
minhas alegrias, meus entusiasmos,
minha mocidade,
minha oblação e os pertences da alma,
intrínseco em meu ser.

E agora só me resta o nada
e o mais nada.


E ao pó massacrado voltei.