terça-feira, 30 de março de 2010

Poetrix Pavônico



















com laçarotes e fitas, sua plumagem se abre
e empavona-se seu cabelo castanho
para servir de beleza e espelho da alma.

Réquiem para um haicai




Construindo réquiem
as palavras emudecem
e mudam discursos.


Tautologia da dor

Camões deveria encontrar-se desvairado ao afirmar que “dor desatina sem doer”. Bastante tautológico: dor é dor em qualquer contexto, não importa se desatina ou não, ela sempre será dor. Fatos paradoxais e oximoros não fazem da dor menos complexa ou sensações mais ou menos aguda, mas molesta. Doer dói mesmo. E o pior a ausência da dor também dói. Será por quê?! Descubrir-se-ia o ser no vazio ou em seu complemento preenchido? Tudo há dor? Eis a filosofia camoniana a nos espreitar.

Elegia amorangada



Por mais que teus lábios não toquem mais nos meus,
sinto-me embriagado por suas cores avermelhadas
que aos poucos efervesci meu paladar
alcaliniza desejos,
purifica corações e a dor se esvai
com sentimentos loucos.
A saudade arde em meu peito
quando me lembro do nosso encontro,
do nosso amor fugaz
que esmerei um dia.



Meus ossos tornaram frágeis e melancólicos
com tua ausência.
Enquanto não te possuo minha garganta arranha
e desvairado permaneço
ao perceber o tom triste de tua voz.
Como remédio amassado com mel
imagino-te em sonhos.
Puro delírio!
Só restou-me uma ferida e mais nada.
Onde buscar aquele lirismo de outrora?

Eu deixarei que morra em mim
o néctar e tua fragrância estonteante
pois tudo se diluiu em desencontros.
Teus híbridos sorrisos mataram-me lentamente
e cegou-me assim que percebi a miragem ao meu redor.
Trata-se de um pseudofruto,
pois na verdade, o verdadeiro fruto são os "pontos pretos"
que serviram de vitamina C para minha consciência.
Um dia espero a hemorragia cicatrizar
e purificar a tristeza que pairou em mim.


domingo, 28 de março de 2010

Construindo palimpsestos

Quantas cores os palimpsestos da memória remetem-nos? São infinitas pérolas negras, porém encontrá-las tornam-se difíceis. Com um pergaminho que investiga a memória há a capacidade de traçar as melhores estradas que iremos percorrer, embora a pedreira ou o asfalto limado não nos permitam.
Mesmo assim, delineia-se cada pessoa a sua devida inscrição, moldando-a da forma que lhe apraz e que lhe convier.
Aproxima-se o grande ensejo de fotografar a vida, de escrever em cima das rasuras e dá outro formato a letra, de substituir o feio pelo belo ou vice-versa, de examinar novas catáforas e valorizar o hipertexto, pois a cada ser lhe é dado o poder de reescritura e transformação.
Ásperas, espinhosas, trabalhosas, arriscadas serão as construções desses palimpsestos, uma vez que se modificam os ares e tudo o que atravessa. Tal estrutura traduzirá o desejo mais íntimo, escondido e resenhado por meras partículas a fim de que cause uma linda derivação imprópria.
Enfim, somente perdurar-se-á a trama sincrônica e diacrônica da linha da vida, pois caberá se impuser o ser sobre ele mesmo e sobre o que o rodeia. A argamassa do palimpsesto é re(criação) imagética, puro delírio, suaves quimeras cujas ações se concretizam à medida em que se dissipam e se misturam ao que é realmente vital.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Prece automobilística



Em nome da Fiat,
da Fusca
e da Monza:
Bibi!

Cordis Ad Eternum

Em linguagem híbrida de vocábulos jurídicos e alusões bíblicas, Filhos do Coração esclarece o procedimento da adoção afirmando que todo ser humano possui direito a uma família.
Nessa obra, ora mencionando situações narrativas, ora usando a poesia para salientar que a lei prevê em relação ao filho, tanto ao fato de ser biológico, quanto adotivo, um lar. O autor mostra-nos em sua obra a importância do processo de adoção como aquele que observa todas as garantias de um processo justo, capaz de analisar de forma interdisciplinar a situação da criança e do adolescente, a fim de tratá-los como a máxima igualdade possível.
O texto promove o encontro entre as literaturas jurídica e bíblica e, desse modo, (re)cria um universo literário enriquecido pela soma de conhecimentos oriundos dessas áreas distintas. Ambas se entrelaçam num tema único, revelando ângulos que podem ser discutidos e até mesmo elucidativos a respeito da adoção. A possibilidade de se estabelecer um parâmetro de tratamento igualitário concreto entre as crianças amparadas pelo amor dos seus genitores, daquelas rejeitadas por estes é, praticamente, impossível.
Por este prisma, faz o leitor envolver-se por um contexto árduo e apaixonante; no entanto, percebe-se que a estrutura do vocábulo jurídico articulada por uma fenomenologia própria somente é vislumbrada com o complemento bíblico. Eis a verdadeira metáfora da adoção!
Assim, Nilseu Buarque de Lima, num vocabulário técnico e concebido a partir de uma hermenêutica pessoal, molda-nos e apresenta-nos considerações sobre a adoção, que nos permitem considerar o tema, a partir de um olhar elaborado na solidez jurídica e simbolismo da fé.

Tributo ao Tamarindo













Acético, cítrico, tartárico,
forma agridoce de se lambuzar em ácido
geram devaneios loucos
ao tocar os lábios.
Teu azedume paira uma substância
análoga à própria ânsia
Tuas flores hermafroditas amarelas
ou levemente avermelhadas
se reúnem em pequenos cachos axilares.
Ao degustá-lo
o paladar se permuta,
se transforma e se mistura à língua
num puro deleite, gozo, desejo excêntrico e mórbido.
Desmedido vestígio de toques,
polpa afrodisíaca do pecado
cujo coito inebriado e embevecido
copulam e bolinam entre si.
Málico, hiperbóreo, fitoterápico,
sente-se ao beijá-lo.
Irradia corações com proteínas e aminoácidos.
Saboroso fruto diabólico do prazer,
êxtase supremo dos anjos,
estimulante semiótico
que enfeitiça-nos com um simples contato
boca a tamarindo.
Puro bel-prazer semântico!
Ósculo santo!
Frenesi imprescindível!
Oh! Tamarindus de nossa pátria gentil!
Enlaça-nos com teu sabor,
perpetua-nos com tua acidez inexorável,
exaure-nos com tua magnificência,
enleva-nos com as delícias paradisíacas,
incita-nos com teu forte teor de glicídios
e nos faça um só elemento humano-mineral.
Sacramenta-se, enfim, o verdadeiro processo de transubstanciação.

sábado, 20 de março de 2010

O ato de incomodar


Não sabia que minha idéia em criar um blogger fosse, caríssimo leitor, seguidor e/ou amantes da internet, engendrar certo tom de incômodo para os corruptores do mundo virtual. Depois de passar por aqui mais de mil e cem navegantes lendo minhas tessituras (simples por sinal), em menos de dois meses, jamais imaginei que a arte de escrever, embora meus textos não tenham o mesmo valor dos grandes historiadores, pensadores, escritores e personalidades acadêmicas, importunasse e perturbasse tanto a um sujeito indeterminado.
Com efeito, deduzo que após terem tornado extinto meu primeiro blogger (já afirmo que ele foi somente o primeiro e que não será único) não desistirei em hipótese alguma de lectar-me e bloggar-me excessivamente em qualquer tempo verbal que for necessário com privilégio e prazer, visto que é bom saber que palavras bem concatenadas incomodam, irritam e geram ações e maus exemplos para a nossa realidade.
Infelizmente, perdem-se os comentários belíssimos dos textos, porém não se dissipa nem se perde o humor e a ironia de marchar e avante realmente continuar com tal missão. Espero continuar contigo, leitor assíduo, nesta caminhada virtual imagética e cheia de peripécias textuais.




quinta-feira, 18 de março de 2010

A Sinestesia da Pedra e a metamorfose da Aldeia

Chega-se um momento na vida de que precisamos vislumbrar os movimentos árcades na prática. Contemplar a nostalgia que paira ao nosso redor e que muitas vezes não percebemos. Realmente Frei Tomás encontrava-se inspirado em transformar a metáfora da Aldeia em algo além das cores do arco-íris, visto que o bucolismo remete-nos a contextos nos quais jamais se imagina reviver.
Todo processo de enjambement nos faz cavalgar em pensamentos: da carroça de burro que perpassa o asfalto castigado pelos açoites diários; os estrumes das vacas no pasto; os tamarindeiros repletos de frutos sendo transformados em deliciosos picolés; o Paraíba banhando as terras da Aldeia da Pedra cujo passado vem em flash nas mentes, deixando transparecer o Recanto da Saudade de um horizonte indígena.
A catequese do saber invade corações à proporção que a Serra da Bolívia engendrada num cartão postal entremeia-nos gamas de sentimentos metaforizados pela sintaxe da vida, pela combinação generativa com outro universo: a metaformose do saber vinda de uma alteridade mórfica que poucos
compreendem.
A Aldeia evoluiu. Eis a vitória metamórfica!
Não se sabe se os corações acompanharam a nova pavimentação e cores. Não se sabe se pensamentos buscaram novas idiossincrasias. No entanto, os filhos da terra retornam e voltam para nutrir-se em vitaminas e injetar anticorpos para alimentar a sinestesia imunológica.
Com efeito, hidratar-nos-emos de muita água de coco para não ressecar com o amarelo e lua cheia de nossos dias. É lindo matematicamente ver os sinais e rastros visto na praça. Exclusiva e única. E não são metáforas nem sinestesias em si. É real! Literal! Eis o ardor missionário moldado por novas chaves, por novas descobertas, por novos fins, por novos Pinguelões.
Agora a fantasia se fala em Ilha, entretanto permanece aquele Lual da década de oitenta remetido em novos drinks, em nova voz e performance. Talvez a nostalgia torna-se mágica e necessária em nossas vidas, uma vez que a árvore genealógica gera saudade. Lembrar do pastel de batata daquela época torna-nos até piegas, todavia amantes da vida.
Encontra-se o momento certo de se lambuzar com jamelões, jambos, mangas, de andar a cavalo, de olhar para o verde do pasto e descobrir valores que estavam adormecidos por causa da metrópole e poluídos com as fumaças dos carros que foram digeridas pela poluição. A Aldeia da Pedra significa restauração. Aqui (re)surge uma nova respiração e inspiração para viver o extraordinário, o magnífico do Porto Marinho, da Cidade Nova e dos Laranjais. De batatas a Batatal (re)criam-se as ruínas do Catelinho de Pedras. A metamorfose do passado se fez presente em um novo tom, numa nova clave de sol, numa nova perspectiva cujos alfarrábios liberam um novo elixir.
Antigamente, degustavam-se os deliciosos pães-de-mel. Hoje devido ao avanço e aperfeiçoamento, a panificação transmuta para o saboroso leite condensado. Isso mesmo que pensara: pão de leite condensado.
Diz a Sagrada Escritura que Moisés libertou o povo hebreu da escravidão do Egito. O mais incrível que a arte da teologia da libertação, por meio de uma escadaria, sobe-se para ver a estátua olhando e contemplando o Paraíba do Sul.
A partir desse deslumbre, percebe-se que a Geografia não se encontra de fora daquele hemisfério, pois os habitantes não se localizam mais em ocas. Será que evoluíram em mentes e corações? Isso dependerá da forma em que se vivencia cada ser. É algo pessoal, intransponível e imprescindível à localização de cada batimento cardíaco. Assim, acontece o verdadeiro pulsar! O verdadeiro ser se transforma em outro ser por causa de sua identidade, uma vez que é única. Assim, a inspiração brota-se de saudosas lembranças nas quais os pensamentos enraizados em um déjà vu transmitem-nos o melhor dos ideais.
Em suma, a alegoria não pára, já que as redes balançam cada vez mais e misturam a calmaria nostálgica ao avanço tecnológico. Parafraseando Drummond, «Devagar... as janelas olham. » Realmente os olhares acontecem e o pacato momento se agita para filtrar o melhor de Itaocara. Eis a descoberta de um novo horizonte, e porque não dizer de um novo paraíso.

O inesquecível para onde de José


Foi em 1987. Nunca pensei que o rumo e o destino de José marcassem-me tanto. Um poema grandioso e escrito pelo mineiro Carlos Drummond de Andrade que me fascinou – tanto o poema quanto o autor.
Naquele ano, minha professora de Língua Portuguesa inscreveu nossa turma num festival de jogral que acontecera em nossa própria instituição escolar.
Com efeito, os ensaios foram de risos, meras brigas pelos descasos de uns e de alegrias, já que amávamos sair de sala de aula para fazermos qualquer tipo de atividade extraclasse, nem que fosse também para fazermos bagunças.
Embora tenha deixado marcas do que se foi, José foi incrível em minha vida, visto que Carlos Drummond de Andrade morrera alguns dias de agosto depois do festival – e graças a Deus tínhamos ficado em primeiro lugar. Estava eu na oitava série e tinha descoberto o prazer da leitura através de um mundo bem complexo que sempre vem ao meu encontro.
No dia da morte de Carlos Drummond de Andrade, junto a minha turma chorei muito – não só eu, mas todos os outros alunos que se encontravam embevecidos com aquele sagrado momento. Nossa quanta
saudade! Quanta imagem acústica tivemos com nossa professora para discutir e analisar o poema José. Foi o grande marco em minha vida. Nunca tirarei dos meus acervos e memórias a grande vã filosofia que nos fora proporcionadas num contexto bastante sublime!
Anos se passaram. Sempre deparo com este poema em situações inesperadas. Cada vez que o leio arrepio-me pelo lado sensorial que jamais pensei ter. Vibro cada verso como se fosse realmente o próprio José.
Às vezes, em momentos rebeldes de minha vida, tinha vontade de gritar, de tocar a valsa vienense, de dormir e de fazer o tempo parar. Como não posso retornar ao passado, posso imaginar, sem teogonia, sem parede nua para me encostar, o perene contexto lúgubre de meus pensamentos.
Em suma, hoje, senti a grandiosa necessidade de expandir meus pensamentos fugazes que jamais esquecerei; pois sei para onde quero ir, quais caminhos deverei percorrer e quais ocasiões devo, através dos erros, humildemente, construir um novo alicerce para uma vida nova. Agora, e você “José” para onde mesmo?


Abertura Solene




Uma nova tessitura

A partir deste exato momento lectar-me-ei em outro tom, voz e performance: a era digital. Criarei novas tessituras, visto que resenharei a vida. E assim serei leitor do mundo que me rodeia, pois temos que criar novos laços imagéticos, sinestésicos que estejam além da letra e do signo linguístico.
Chegou o momento de abraçar o tecido escrito, mostrar alfarrábios engavetados, tirar as teias de aranha, a poeira da escritura e aos poucos torná-la sagrada. Assim um novo universo literário se construirá e se despirá numa nova fenomenologia.
Não se sabe ao certo o que provocará a teoria do efeito de Wolfgang Iser nem a teoria da recepção Hans Robert Jauss aqui; entretanto, algo é certo: as palavras podem incomodar e realizar novos sons ou engendrar uma nova ideia.
Por conseguinte, convidá-lo-ei a abraçar esta literariedade a fim de lectar-se neste novo espaço sideral. Bloggar faz bem a alma e ao coração literário.
Siga-me!