sábado, 18 de setembro de 2010

Costurando sombras

A sombra só aparece quando brilha alguma luz. Ela disfarça bem o comportamento das pessoas e me faz lembrar Peter Pan quando perdera a sua na casa de Wendy. Como algo tão simplório transporta tanta emoção, entusiasmo a ponto de mascarar o ser humano? Pena que ela somente exista se houver luminosidade para refleti-la.
As pessoas são sombras que navegam pela claridade assim que seus sentimentos começam a aflorar e aparecer, pouco a pouco, sem perceber, num estalar de dedos. Peter Pan sabia da importância e do valor que ela tinha para si; por isso, que ele retorna ao mesmo local que a perdera para reencontrá-la e “costurá-la” novamente.
Perder a sombra para ele seria como se a vida deixasse de prosseguir ou até mesmo co-existir, visto que ela era participativa e tinha se apropriado dele para acompanhá-lo aonde quer que ele fosse.
Atrás de uma cortina de palco, que por sua posição semilevantada designa com certa insistência a fusão do eu com o outro: a sombra é o outro espelhado com tons escuros para ludibriar e co-participar da vida do eu.
À medida que Peter Pan perde sua sombra para um cachorro, a cena de buscar o negativo torna-se grandiosa e emocionante. Eis a presença do duplo engendrada pela imagem fotografada da personagem com sua sombra servindo de oposição de comportamento.
Aí se cria um estado de apropriação da criação. A sombra é sua rara e poderosa criação. Ela poder-se-á ser excêntrica ou não, mas lembra o arrebatamento programado que podem ser produzidos pelo anúncio perdido de uma nova moda, suscitando rituais para inovar com desenhos e criatividade a moldura do outro em nós.
Quantas vezes perdemos nossa sombra em nós mesmos? Quantas vezes a costuramos para nos enganar primeiramente e ao próximo que nos rodeia? O eu e o outro cambaleiam e se estereotipam numa briga e numa harmonia desigual. Não se pode viver sem sombra nem sem o outro armazenado em nosso âmago. Há uma necessidade mútua entre ambos. Assim, o cenário pictórico da imaginação se re(cria) a fim de inventar o que desejar de fato.
Segundo essa perspectiva, falar de “cenas”, de “atores”, de “palcos”, de “papéis”, e assim por diante convocando ao mesmo tempo as duas famílias de acepções desses termos – uma remetendo a uma conceitualização jurídico-política das relações humanas interpessoais e a outra do universo da dramaturgia, já que a sombra é a consequência inovadora do pecado e da existência entre o eu e o outro. Ela pode ou não mascarar o eu para acionar melhor o outro que vive no espaço virtual.
Sessões catárticas, enfim, podem levar a relação dúbia entre o eu e o outro a se libertar de emoção ou sentimento que sofreu repressão, uma vez que filosoficamente a sombra só ganha vida se houver a luz, a claridade para formatar o desenho imposto por ela. Não existe término para tal situação. Tudo se renova a cada toque imaginário para demonstrar os “sujeitos” e “objetos” caracterizados nesse contexto como entidades chamadas a trocar constantemente entre si suas respectivas posições actanciais, o jogo que aqui se joga – o da sedução.

12 comentários:

  1. Muitoo bom o textoo ! se encaixou muito bem a frasee ... " a sombra só existe quando brilha alguma luz " rsrs
    abraçoos... sucesso!

    ResponderExcluir
  2. Objetos são apenas objetos. Nós que atribuimos cores neles.

    ResponderExcluir
  3. Uau! Seu blog é muito massa! Adorei!
    Ah! E obrigado por seguir meu blog!

    ResponderExcluir
  4. Peter Pan foi meu personagem favorito na segunda infância! Que delícia ler seu texto sobre a sombra, além de me remeter doce nostalgia, lembrou-me também do livro "O Lustre" (que estou quase finalizando), na parte em que o menino Daniel guia os primeiros passos da Virgínia nos caminhos da transgressão na Sociedade das Sombras, cujo lema é a Solidão e a Verdade.

    "Quando a gente vê um vagalume a gente não pensa que ele apareceu, mas que desapareceu(...)Sem ninguém saber como se é, está aparecendo ou desaparecendo, sem ninguém adivinhar, mas pensa que a gente não vive enquanto isso? vive, tendo história e tudo como o vagalume". (Clarice Lispector)

    Um abraço!

    ResponderExcluir
  5. Gostei do teu cantinho, escreves muito lindo.

    Abraço.
    Fernanda.

    ResponderExcluir
  6. Obrigado por sua graciosa visita lá no meu canto,gostei muito daqui.Tenha uma linda semana.Abraço!

    ResponderExcluir
  7. Como as sombras, se me segue te sigo se te sigo me segue.
    grande abraço.

    ResponderExcluir
  8. oi!
    bonito texto.
    o q há de mais comum e mistico que a propria sombra?

    obrigado por add o meu blog.. de algum sentido gostou dele.
    parabens pelo seu .. estarei aki te lendo!
    abrass!

    ResponderExcluir
  9. Oi amigo...
    Basta que mantenha-se sob a luz. A mesma luz que recebeste, ao nascer. Deixe a sombra para o anoitecer,pois somos todos filhos da luz.
    Um abraço!

    ResponderExcluir
  10. Vivemos uma dualidade, nós e nossa sombra. Tal dualidade e usada de acordo com o momento e as conveniências de cada um. Hora um hora a outra age camuflando a realidade.
    Abração

    ResponderExcluir
  11. Olá!
    Devemos viver sempre na luz, nunca na escuridão.
    Seu texto é maravilhoso. Parabéns pelo dom.
    Tudo de bom!
    Com carinho, Lady.

    ResponderExcluir
  12. As sombras são onde as pessoas menos pensam na vida,porém muitas delas só brilham em momentos e mostram seu valor quando não a necessidade.
    Vamos parar para observar mais as sombras ao nosso redor e observas mais tamanha importância das mesmas...

    ResponderExcluir