quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O poema


O poema tem pressa de existir,
tem sede de conhecimento e mistura vocabular,
tem fome arlequinal
por mudar de opinião a cada momento
já que a sílaba se constrói em verso
para disfarçar o palhaço
e o saltimbanco que há nele.


O poema sopra idiossincrasias
e cantarola e dança o fox-trot da farsa,
numa opala de variegadas cores
para ludibriar a pierrô
ao engendrar outro cenário de risos.
- Quá quá quá! - ri o poema esdrúxulo
em meio a uma quase polifonia de palavras.
Luzes da ribalta focalizam-no
ao levá-lo para o palco sombrio, úmido
e lúgubre de contraste.

O poema nasce, gira e sopra palavras
que saem pelos tímpanos surdos
e soam pelas bocas mudas
da criatividade.
O poema se (re)cria
à medida que se envelhece
para se tornar outro jovem Nijinsky.


O poema é um pássaro, um avião
e um super-herói dos nossos desiguais,
pois estimula técnica e composição descomunal.
Ele metamorfoseia o que a imaginação solicita
e capta aos poucos a originalidade
sem rima, métrica e adereços líricos.
O poema aciona o desvairismo
e a loucura escondida nas entrelinhas.

3 comentários:

  1. Olá
    E no seu poema ,você soube muito bem usar essa mistura vocabular que o poema tem sede.
    Grande abraço

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  2. gostei... muito bom... já estou a acompanhar tuas palavras...

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  3. Ao escrever poesia o autor, tem esse direito de brincar com as palavras, assim como você fez e ainda mas com essa mistura de figuras de linguagens, gostei muito do poema.

    Abraços...

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