segunda-feira, 5 de abril de 2010

“Esquecer de se esquecer”

Tudo parecia normal. Até o momento em que o copo de coca-cola caísse junto a um material impresso e fizesse uma terrível lambança literária.
Nunca imaginei que minhas retinas saturadas e míopes pudessem contemplar tal visão.
Acho que um mero vazio pairava um gosto desconhecido e a mistura sólido-líquida fez-me refletir sobre o mundo ao meu redor. Talvez seja falta do que falar, do que escrever ou até de mim mesmo. Verdade: sinto falta de mim. Sinto saudades de pensar, de voar em pensamentos ininterruptos sem me perguntar se o universo conspirador existe de fato.
Infelizmente não se pode ser translúcido o tempo todo. Perdi a imaginação em alguma entrelinha e esqueci-me de esquecer e de me avisar a respeito.
Acho que o poder zero da coca-cola misturada ao papel almaço ainda me faz viajar em algum espaço sideral perdido, mas logo afirmo que tudo é puro achismo ou a pouca fantasia que há em mim.
“Esquecer de se esquecer” resume a ausência de pensar e de si próprio. Enquanto uns esquecem-se de amar verdadeiramente, entremeio palavras vazias para esquecer, para fugir de mim e das falsas pregações.
Viajo nas palavras para metaforizar a vida, uma vez que precisamos estabelecer algum elo significativo para dar existência a nós mesmos.
A pior impressão não é descobrir onde se localizam as entrelinhas, porém vê-las no sentido lato e brilhante das estrelas. Já a pior sensação foi descobrir que roubaram tais entrelinhas de mim. E onde encontrá-las? Onde buscar uma pequena referência para descobri-las e desvendá-las em meros meteoritos fugazes.
As manchas impregnavam dissabor às folhas do real, já que macularam com tons acinzentados os corações dos poetas e dos deuses da quase mitologia nórdica. E nesse instante o machado mágico perde-se o poder e a essência para não mais coordenar pensamentos. Estes não existem mais, por mais que cantem ou se silencie tornaram-se ofegantes e sem teor.
Assim, o ato de pensar o momento adquiriu ebriamente um novo efeito e uma nova atmosfera para evidências empíricas, até que o narrador volte a ser protagonista dos seus próprios atos no tablado da vida.







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