quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Semear ou ver flores, eis a questão?!

Houve um tempo em que via flores ao meu redor e no amor que sentia pelo meu objeto de desejo.
À medida que os dias foram passando, descobri que tais flores murcham e que seria necessário plantar novas mudas, adubar uma boa terra e jogar sementes de felicidades a fim de promover o que meu coração almejava: um excelente relacionamento sem neuroses, sem atitudes esquizofrênicas ou psicoses mirabolantes.
Semear em novas terras ou não semear? Eis a questão filosófica e empírica que paira em minha mente. Infelizmente não bastaria ser um exímio semeador, não bastaria somente acreditar que tais sementes iriam germinar, uma vez que a terra escolhida poderia ser boa ou não, e poderiam existir pedras nelas. O que fazer com as pedras? Ornamentá-la, mudar seu formato, lapidá-las? Ou retirá-las e jogá-las fora no lixo?
Percebe-se que tudo virou questão de ótica e de como encaramos as flores: metáfora entremeada de relacionamentos entre pessoas.
E os espinhos? O que fazer com eles? Se não soubermos lidar com eles podemos nos ferir e muito. Arrancá-los seria a solução? Não sei. Depende muito de como se vive e para que se vive, pois relacionar-se é algo complicado. Muitos não sabem nem se relacionar consigo próprio, imagine com outra pessoa?
Com efeito, percebe-se que é triste saber que precisamos batalhar muito, montar quebra-cabeças de esperanças ou matar um leão para sobreviver às armadilhas e às falsas convivências e promessas que escutamos de vez em quando.
Se os espinhos crescem vem enraizados de sentimentos metalizados e sofríveis pensamentos, mas também vem à tona o aprimoramento, o amadurecimento, a sensatez e os resíduos deixados para que o sonho jamais morra ou sufoque, por isso tamanha beleza é engendrada e erguida.
O amor se foi e não sei se outros virão, e se virão serão bem-vindos e alojados em meu coração. Nele há espaço para todos, mas somente um será o dono fiel e contestador de emoções nada fugazes.
Minhas flores desejam o sol, o ar quente e úmido da manhã, pois precisa decorar o que se tornou triste e manter-se viva, aquecida e neutralizar o feio, a desarmonia e os atos destruidores.
Quero ver flores em minha volta, quero criar anticorpos para lidar com os espinhos, quero semear novas amizades e tornar-me um exímio semeador: um grande contestador de palavras em busca de sucesso e realizações. Portanto, seria a solução criar um verdadeiro jardim, onde possamos ver as abelhas e as borboletas visitando-o diariamente atraídas pelo pólen e pelo néctar das plantas floridas. Tudo seria mágico e resplandecente à proporção que eu acreditar nessa linda construção: o meu verdadeiro relacionamento com o outro.
Tenho que sentir que os perfumes das flores ainda exalam em minha mente. Tenho que perceber que ainda há flores na pessoa amada: meu desejo insaciável por respostas infindáveis que complementam minha loucura. Desejo criar um rock para as flores e com as flores, já que quero cantar, na ronda, na onda de minhas poesias florais.
Eu tinha no passado um violoncelo com decalques repletos de flores. Era exuberante e perfumado tal instrumento. Será que um dia o terei de volta? Talvez não, pois ele se foi e levou consigo as cordas de aço que tocavam a nossa música patética e nostálgica.
Agora tenho que acreditar em que haverá novos horizontes com novas flores. Meu maior medo é me ferir ou deixar-me ferir novamente com o mistério escondido a sete chaves pelo meu desejo mor.
Embora saiba que via flores constantemente, criei uma redoma que escondesse tamanha perfeição agradável à vista, e que cativa o espírito, pois receio ficar inebriado e ser ludibriado novamente pelas palavras ditas anos atrás. Cansei de silenciar meu coração. Por conseguinte, irei gritar e esbravejar toda e repleta emoção escondida. Não me calarei diante das flores nem do perfume exalado por elas jamais. Irei, agora, defenestrar o que me faz mal e recomeçar e restituir tudo que me fora roubado, aniquilado por tamanho sentimento.
Enfim, que surjam novas flores a fim de me devolver a vida e de me tirar da depressão e da angústia deixadas outrora por quem não deu o valor necessário ao amor que sentia. Desejo, assim, voltar a semear e conquistar o meu verdadeiro jardim dos sentimentos e me enlaçar pela metonímia do real nas mãos da fantasia.
“Que vejo flores em você...” Tudo é passageiro e fugaz, então brindemos as flores, o que elas representam e significam sinestesicamente e construamos melhor nosso presente com elas a nossa volta. Eis a verdadeira metáfora do prazer! Basta acreditar.




6 comentários:

  1. Nem tudo que tem cor é flor/Onde tem dor, ja passou o amor. O espinho faz parte da flor, assim como a dor do amor. Seu Texto é perfeito, eu me encontrei em parte nele. Parabéns amigo. Espero estar compartilhando com voce no proximo ano. bjs feliz 2011.

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  2. Lia o texto e lembrava-me da música do Ira... 'as flores de plástico não morrem nunca'...
    Um 2011 com muita prosa & poesia & energias positivas!
    Bjs*

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  3. Existem leituras possíveis, mas existe também a sensibilidade do autor para captar a alma do próximo e manifestar isso através das palavras. Ao ler est texto, não pude deixar de me ver, de me perceber. Os espinhos, as flores...Como têm aparecido espinhos, mas como têm aparecido flores, inclusive dentro de mim. Tenho sentido , em mim mesma. o perfume das flores da segurança, da autoestima, da esperança, da renovação...Também tenho percebido a dor de alguns espinhos, mas a diferença é que hoje as flores os superam.Enfim,vim comentar o text e acabei "me comentando". Um bom texto, é aquele que faz o leito fazer um viagem para si mesmo. Esse texto cumpriu plenamente o seu papel.

    Amigo, seja sempre inspirado!!!

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  4. Jasanf, Um 2011 super bacana e cheio de realizações.
    Bjão

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  5. Quanto tempo eu não visitava seu cantinho... Cada vez mais lindo beijos...

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  6. excelente!!!textos como esse nos faz viajar...
    refletir...na vida e pude ver que na verdade nunca é tarde para recomeçar...
    bjs saudades feliz 2011!!!

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