sábado, 26 de junho de 2010

A miragem

Não existem palavras que possam aprimorar o final. Nem a imaginação aprisiona a doce ilusão. Nada há sentido, pois tudo permanece vago, impreciso e indefinido. Será por quê?! À medida que o amor que sinto cresce, sinto vontade de gritar, mesmo sabendo que a dor pode sucumbir e derramar-se em lágrimas. Extravasar sentimentos até que eles se misturem ao entusiasmo, à alegria e à satisfação de viver essa história de grandes amantes poderá gerar uma exaustiva e forte ansiedade a ponto de baixar a autoestima. Desejo-te tanto em minha vida, no entanto sei que estou a amar sozinho e sem nenhum elo coesivo a nos unir de fato. Por que falta um conectivo até nossos corações? Como fugir de mim e do que sinto? Será uma ingrata obsessão?
Receio, aos poucos, desesperar-me insanamente e não saber como aplacar tal abstração, uma vez que tudo aparenta remoto e quase sem vida.
O mais irônico é perceber que no fundo me ama, mas receia em assumir para si mesmo as promessas que um dia fizera. Quebraram-se copos e pratos e os vejo estilhaçados no chão, mostrando nossa face em pedacinhos de pensamentos, desafetos e desarmonia; porém, pouco a pouco, constroem-se em utopia e desassossego. Não há nenhum ato possessivo detrás disso nem mesmo obscenidades.
É triste perceber que seus lábios não grudam mais aos meus nem roçam minha língua como outrora, visto que nossas fantasias se misturavam e se entrelaçavam numa perfeita simbiose.
Mas eu deixarei que morra em mim a paixão que me enlouquece e me envenena, não obstante não mata. Queria voltar ao nosso oásis e senti-lo dentro de mim a fim de que nunca percam de vista tais emoções.
Assim que o dia amanhece, percebo a grande e tensa miragem que se fez entre nós. Surgem retóricas e alegorias ao lembrar da união de corpos que comprometiam árdua e plenamente nossa relação.
O cheiro sofre mutações porque não acreditávamos que o real pudesse, de fato, se concretizar em nossos caminhos. Então passa a ser simples essência e nada mais. Nosso odor não tinha mais importância nem significado, embora impregnasse em nossos poros a vontade de nos enlaçar, de nos contemplar, de ansiar e de mirar um exclusivo e magnífico alvo: o amor que roubara de mim; que fizera juras, mas não teve coragem de assumi-las perante Deus.
E como desobstruir tudo que sentimos um pelo outro? Não tenho resposta, no entanto seria maravilhoso que nossos sonhos voltassem a ser únicos e compartilhados. Ame-me bem baixinho e com cuidado a fim de que intensifiquemos o anseio por felicidades. Mas para isso precisamos nos (re)encontrar e nos fazer existir.


2 comentários:

  1. A musa da Controvérsia27 de junho de 2010 às 22:28

    Vc sente tudo isso mesmo ou está vendo uma novela ?

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  2. Parabéns adorei ler-te. Aqui encontrei sossego para minha alma inquieta. Viajei nos textos, nas imagens e na musica. Tudo me tocou. Gostei e voltarei sempre .bjs angela

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