Tudo escapou de mim num piscar de olhos. E não sei o motivo que me fez perceber o quanto a tua ausência descoloriu as paredes de minha casa, apagando as luzes do meu quarto paulatinamente. Sozinha fiquei, pois meu amado partiu despedaçando-me por completo.
O travesseiro fora virado várias vezes pelo avesso quando as lágrimas inundaram meu rosto. Encontrava-me desnorteada e minha cabeça efervescia numa enxaqueca emocional, crescendo rápido e ligeiro. Minha imaginação febril se esvaiu e morri para mim mesma a fim de me redescobrir depois. Eram longos devaneios que surgiam e, aos poucos, aumentava-se o estágio de dor que havia dentro de mim.
Enclausurada fiquei e comecei a odiar os raios solares, a desvalorizar meus cabelos, a perceber que havia algo de errado com meus seios, a me sentir feia, gorda, carente, desprovida e destituída completamente de sentimentos turvos. O perfume das flores causava-me náusea, uma vez que tudo me incomodava. Deixei, por um tempo, de existir.
Houve um momento que quis ser Amélia, a mulher de verdade, outro que desejei ser Sophia, para alcançar a sabedoria e atingir o grau máximo de conhecimento. Pensei também em ser Maria, no entanto percebi que não tinha a vocação para receber o título de “a escolhida”. E com tantos nomes em mente, afastei-me de mim, pois me sentia horrorosa e triste.
Chorei muito por não saber quem eu era, visto que a mulher que imaginei que fosse já não existia mais. Veio a ansiedade e entreguei-me à tentação: chocolates. As espinhas apareceram e acabaram com minha pele veludosa e macia. Engordei horrores! Com o tempo, percebi que tinha me tornado uma uva-passa. Envelheci por ausentar-me de mim e por deixar o sofrimento emanar e tomar conta de meu ser.
Caminhava sem rumo pelas ruas. Tudo se perdera e me vi com depressão. Deixei de pensar e de existir, uma vez que nada havia sentido para prosseguir.
Maquiagem passara a ser uma espécie de máscara, pois tinha vergonha de me mostrar. Tentava sempre fugir de mim mesma e quando me olhava no espelho percebia-me vazia, sem vida e ausente de tudo.
Minhas amigas começaram a imaginar que eu tinha alguma doença contagiosa e se afastaram de mim. E veio a solidão. Mas esta solidão não era pela saudade que sentia (ou fingia ter), mas por não saber quem eu era. Por isso comecei a ter novas faces e a cada fase lunar mudava plenamente de personalidade. Quando não era Amanda (digna de ser amada) era Gabriela (a enviada de Deus). Não sabia o que fazer para mudar tal situação. Não queria ser somente a mulher meiga, doce, graciosa e elegante nem ser a Madonna que havia em minhas entranhas. Mas quando esta baixava em mim virava uma pantera. A fera saía para fortalecer a torre que nascia em mim. Não queria ser uma mulher de fases, entretanto não sabia o que fazer para modificar-me.
A cada mulher que eu me tornara, fazia-me desaparecer por inteiro. Cheguei a desejar todas ao mesmo tempo, contudo percebi que não era eclética o bastante para me criar e recriar sempre. Todas iriam me confundir com tamanha personalidade múltipla.
Pensei em desistir de mim e me atirar de uma ponte ou atravessar o sinal assim que os carros tivessem em alta velocidade. Mas no fundo eu necessitava de mim. Eu precisava dar oportunidade a mim mesma e a lutar por esta existência. E um dia fiz as pazes com o sol e resolvi me entregar à vida, ao entusiasmo, à esperança e a me amar. Isso mesmo: amar-me. Eu vi que sempre havia escondido em meu íntimo a graciosa Ana. Poderia ter escolhido ser qualquer outra, todavia, nesse exato instante, era a que combinava comigo.
Depois de um tempo, que o amado se foi, percebi, como Ana, que ele não tinha mais importância e que outros viriam e sabiamente escolheria aquele que não tivesse o estereótipo e o protótipo dos contos de fadas. E sozinha, comigo mesma, com meus botões, amando-me tanto, passei a viver e a valorizar toda graça que havia em mim.
Assim, as outras personalidades e fases se extinguiram e voltei a mim. Não havia mais banalidades e comecei a construir meu próprio horizonte e a imaginá-lo sem fim, uma vez que nem a morte separar-me-ia de mim. Lutei arduamente e me venci para ser a mulher que escolhi ser. Mulher sem reticências, sem dúvidas e sem neuras. Mulher e ponto final.
Lindíssimo, fofo, adorei.......mas eu sou uma mulher de fases...um pouco de cada.... e quem não é? bjocas
ResponderExcluirMuitas fases de mulher! Todas as mulheres são assim! Ah, o amor! Até que algumas conseguem, finalmente perceber que amar a si mesmas é a melhor forma de amor. O resto vem como consequência. Eu prefiro a Ana!
ResponderExcluirJander,
ResponderExcluirSeus escritos vêm crescendo tanto que deles não damos mais conta!
É uma gama tão grande de sentimentos, sensações,(re)descobertas que tem nos proporcionado sua leitura que não sei mais como falar deles... Apenas sinto-os! Em especial senti a trajetória da mulher aqui em Ponto final. Que mulher não teve a chance de viver esta busca! Sim, pois, por mais insano que possa parecer, nós buscamos este encontro com nosso próprio eu e, o mais intessante é que quando chegamos lá, percebemos que não é o ponto final que queremos e optamos por ´virgula, ponto e vírgula... Outros caminhos queremos e outros papéis assumimos para percebermos que ficou muito de cada uma - Amélia, Sophia, etc - em nós.
Beijos.
Jander, você abordou magistralmente um dos aspectos da alma feminina.Obivamente, identifiquei-me em vários trechos.A vida de uma mulher é assim, há fases duras, tristes, caóticas...Mas sempre nos levantamos para mostrar toda a essência do nosso eu superior.
ResponderExcluirEscreva sempre. Ilumine nossos pensamentos com suas reflexões.
Bravo...bravo...bravissimo...parabéns...
ResponderExcluirnesta minha fase que sabe bem qual é...passei por cada uma dessas mulheres que vc retratou tão sábiamente...sei que em breve me encontrarei assim como Ana...hj me sinto como Amanda...
Continue assim sentindo a excência de tudo e nos tranmitindo com tão belas e sábias palavras...
bjs
Bem-vindo ao clube das mulheres! Com efeito, isso me incomodou um pouco. Não é nada fácil ver que o nosso universo é tão repetitivo e deprimente.
ResponderExcluirO texto nos faz lembrar de momentos que já passamos...
ResponderExcluirParabéns!!!
Jasanf,
ResponderExcluirEmocionei-me.
Felicito-o pelo requinte das palavras escritas que trajam os sentimentos expressos. Sabe?! A vida ensinou-me que o amor está presente em todos os instantes da nossa vida. Traquina e, travesso se apresenta de diversas formas. Nas palavras que proferimos ou ouvimos, nas acções que praticamos e, auferimos, no sentimento requintado que sentimos pela pessoa que amamos e, no entretanto Jasanf existe um preceito uno para saborear e ou privar desse sentimento eloquente. O amor que cada um de nós sente pela pessoa em si.
Apaixonada pela vida, por todos e, tudo o que me rodeia permito-me de uma forma leal reconhecer o requinte que possuo na mulher que sou, que coabita comigo todos os dias da minha vida e, que proporciona-me semelhantes estados de alma.
Um delicado e, ténue dia para si.
Ana
engraçado todos falam que depois de um termino em um relacionamento todos engordam eu emagreci, parece que tenho uma doença de tao magra. Por um tempo tinha nojo da comida, lembrava e sentia nauseas. E duro, e triste mas e preciso. Deus nos faz fortes para nos fazer felizes kkkk eu ainda nao superei mas sei que vou.
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