sábado, 8 de maio de 2010

Metáfora da loucura

“Transferência”, “transporte”,       “indução” e “analogia” definiram a metáfora e o poder de comunicação por trás dela. Ela é tão corriqueira que muitas vezes não a percebemos e não a analisamos como deveria. Assim também é a loucura, e como efeito metafórico depressor e pungente age no cérebro em grandioso número de neurônios, que esquecemos de pensar ou quando pensamos apoderam-se deles por meio de leituras labiais.
Só que para adentramos na metáfora da loucura temos que falar da observação ao nosso redor e do teor excessivo de contrastes que ela mesma prolifera e cria, a ponto de percebermos as combinações sórdidas, nocivas, levianas e “lascivas” (mera transferência de vocábulo com valor estético) de significação.
Então agora imaginemos que paredes falem e escutem. Eis a metáfora perfeita para a construção da loucura, pois o louco traz em si o seu mundo e para ele não há mais semelhantes nem há nada em volta dele. Ele se reitera da imaginação para fazer a sua realidade e criar assim, como lhe couber, sua devida metáfora. Ele se transporta para um universo reengendrado fora do campo magnético de sua própria criação. E assim começa a imaginar abutres em sua volta e outras aves de rapina a persegui-lo.
Com efeito estético, a metáfora ganha vida. O mais estranho nas palavras é descobrirmos que elas, mesmo longínquas, pronunciam em coro a morte do louco pelas paredes. Sim, elas falam e escutam e no momento invadem pensamentos em construções e montam armadilhas para enlaçar a loucura e a observação num mesmo processo de similaridade.
Assim manipulam a presa a ponto de repartir o sudário revestido por ela. Falso sudário! (É outro transporte metafórico para transferir o significado da falta de limítrofe). E a loucura se constrói em pinceladas para demonstrar a ojeriza oriunda de uma força latente e manifestação de poder. Será por quê? Talvez por não ser capaz de concatenar corretamente as idéias e gerarem falsos testemunhos e criação imagética. Talvez também as vozes sejam simples ilusão de ótica. E se é ilusão, perde-se o encanto e a falsa força estipulada e medida por ela. E se essa metáfora é imaginação, posso afirmar que é loucura e assim a é. Não há enigmas indecifráveis para aquele que se encontra na loucura, já que a compreensão absurda e inversa de valores não existe.
Dessa forma, tanto o verbo quanto a metáfora tornar-se-ão letras e trabalhar-se-ão o valor semântico da loucura no contexto que lhe apraz. E se não lhe apraz, defenda-te.

7 comentários:

  1. Nossa, gostei do texto, muito bom...bjao amoree Nossa, gostei do texto, muito bom...bjao amoree

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  2. Que texto!!! Leva-nos a refletir sobre a concepção de loucura. Eu nunca tinha parado para pensar que a loucura só é loucura para nós: os ditos noramis. Para os "loucos" tudo é normal, porque estão imersos em um mundo criado. É importante pensarmos que o conceito de normalidade só se dá, so é coerente quando acreditamos que existe algum lado que é anormal.

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  3. Eu juro que é melhor não ser um normal... "dizem que sou louco, por pensar assim". Grande sacada Jander, alinhavou as palavras para proporcionar uma bela colcha de retalhos que reflete a lucidez da "dita" loucura.

    Bjksi

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  4. A proposito, como faco para seguir seu blog? Bjbj Anna Karina

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  5. Louco é quem me diz... que não é feliz...
    Será assim? Lucidez e loucura, objetos cotidianos do meu trabalho... psicologia da normalidade não existe... psicanálise, então! Normalidade não existe... se jogamos todos os sintomas do sujeito fora, jogamos o proprio sujeito junto... "nós somos" inseparáveis de nós mesmos, das nossas maluquices, das nossas peculiaridades... o que nos cabe, me parece, é situar minimamente esta loucura num cenário, dar certa cor e nuance, reconhecermo-nos e... permanecermos em algo de especial dentro dela. A propria permanencia é estabilidade, a permanencia em um sintoma específico nos singulariza, nos traz identidade, sentido de ser e de pertencimento... a loucura pode ser amiga, ah, pode sim... Te adoro, meu querido amigo Jander... Anna Karina

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  6. A musa da Controvérsia19 de maio de 2010 às 15:06

    Nossa, agora vc se superou! Eu não seria uma louca se comentasse o texto de um louco? acho que nem vc vai conseguir se achar nessa teia!

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  7. Fabiano Araujo (primo)3 de setembro de 2010 às 23:31

    Caraca, tu é muitoooo sinistro!
    Está brilhante!
    Tu és o Da Vinci e o Pelé da da língua portuguesa! rssss
    Muito bom mesmo!

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